terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Capítulo VI - Medidas Premunidas (O Flagelo de Dernessus)

http://concept-art-house.deviantart.com/

Com o desaparecimento de Marcus I — explicava o prisioneiro —, um período regencial se instaurou. Uma regência trina, para ser mais preciso. Por aqueles tempos, os homens estavam divididos em três grandes grupos: os Legitimistas, liderados por Sir Heinrich, que alegava assassinato do monarca e, portanto, a imediata ascensão de Marcus II, seu legítimo herdeiro; os Tradicionalistas Moderados, que defendiam a criação de uma junta interina de governo, formada pelos principais nobres e sob a regência de Marcus II, enquanto as investigações não se encerravam; e, por fim, os Tradicionalistas Exaltados, liderados por Sir Maya. Segundo ele, o rei havia sido sequestrado e, portanto, o reino deveria ser governado por um conselho aristocrático de forma permanente até o seu retorno ou a confirmação de sua morte.

— A primeira regência da história de Sieghard... — lembrou-se o jovem.

— De fato. Sir Maya fazia sua facção crescer a cada aurora que passava. Ele era um estrategista nato, e sua oratória atraia multidões. No entanto, enquanto o Domo do Rei era palco de um jogo político constante, fora dele rebeliões irrompiam. Foi nessa ocasião em especial, que Sir Heinrich se sobressaiu: pacificando os insurgentes e aliando-se a eles em segredo, no ano 474 após unificação, conseguiu colocar Marcellus no trono — indo contra a maioria dos nobres dentro do castelo.

— Por isso a alcunha: o Ousado. E quanto a Sir Maya?

— Rebaixado a simples cavaleiro novamente, saiu dos prestigiados círculos da alta nobreza e começou a agir nas trevas, fundando uma seita, sempre alegando que o antigo rei estava vivo, e que Marcus II era um usurpador. Sabe-se Destino por onde andou nesse período.

— Uma lástima Marcus II ter ascendido ao trono para dois verões mais tarde o perder. Pior, ver seu povo ser exterminado em tão pouco tempo.

— Marcus II presenciou coisas piores antes de falecer. Com a Pestilência Cega, Linus conseguiu converter os Ordeiros de maneira tão eficaz que foi o bastante para restaurar o contingente inicial do exército do Caos. Este feito só foi possível graças àqueles que trancafiavam a alma dos homens.

— Por Destino, é verdade. Afinal, quem poderia possuir o poder de trancafiar almas?

— Vejo que estamos dando mais um passo para que entenda a ligação entre você, aquele que assassinei e eu. Mas a hora não é esta ainda. Existem mais coisas que devo contar.

— Está desperdiçando um tempo precioso, velho tolo. Não tenho até a próxima aurora para ficar aqui com você.

— Não se afobe em sentir o prazer de me odiar. Odeie-me com calma, ame-me com pressa. Refreie sua língua. Afinal, onde está a nobreza da qual tanto necessita para viver?

— Minha nobreza não está nesta caverna, muito menos diante de você. É uma pessoa esclarecida, mas não pense que me suavizarei por suas palavras. De qualquer forma, ainda é um assassino.

— Não me importo com seu julgamento ou com as leis reais. Você irá mudar de ideia assim que eu terminar. O diário comprovará que o que estou falando é verdade.

— Ele está com você?

— Não. Está em um local seguro.

— Sabe a localização? Posso tê-lo?

— Não enquanto eu não o convencer de minha inocência.

— Muito bem, que assim seja! Vamos em frente. Você disse que Linus restaurou seu contingente. Mas, me pergunto, para quê? A batalha contra a Ordem já não estava vencida?

— O objetivo de Linus sempre foi o mesmo quando invadiu Sieghard. Mas seus planos para realizá-lo mudaram conforme a situação. Linus não contava com muito do que acontecera naquelas auroras. Sir Nikoláos, em seu diário, relembrou sua conversa com o general do Caos. Através dele, Linus revelou ser mais equilibrado que Nikoláos, visto seu patriotismo fanático. Ele queria chegar a algum lugar nas terras do Norte, Vahan Oriental, sem luta. Com a Batalha do Velho Condado, a Tomada do Domo do Rei e o Assédio de Alódia, suas forças diminuíram de forma drástica. Ele precisava de mais forças ao seu lado. Seu objetivo não era vencer a Ordem. Muito antes disso, ele precisava vencer seu maior medo e matar aquilo que o faria perder imediatamente.

0 comentários: