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— Como esperado — o mais idoso retomou o diálogo —, retornar o bebê a Maretenebræ era a coisa mais certa a se fazer. A Purgação deveria ser cumprida.
— Purgação? — indagou o visitante, surpreso com essa nova expressão.
— Ah, sim. Esqueci-me que não conhece esta palavra. Perdoe-me. A Purgação, nome desta prática, era uma herança de antigas eras que só fora eliminada da Lei Real muitos verões mais tarde. Muito antes deste atual reinado.
— É abominável...
— Para qualquer rei ou príncipe era uma dor insuperável. Para as rainhas poderia ser fatal, pois além de perder o filho, tinham que conviver com a vergonha de gerarem um bebê fraco e deficiente. Tal suplício as matava sem pressa. Para com a nora de Marcus I, infelizmente, não foi diferente, conta-se que morreu de desgosto. O filho do rei, desde então, não se casara outra vez. Portanto, não poderia haver uma rainha regente caso ele viesse a falecer em seu reinado vindouro.
— De fato não tenho palavras para descrever como seria esse sentimento. Nestes casos, como se procedia ao constatar-se que o bebê deveria ser jogado ao mar?
— Junto a uma excursão de sacerdotes, a Lei Real ordenava que o próprio pai do bebê o lançasse ao mar. Naquele caso: Marcellus, futuro Marcus II.
— Um fardo pesado.
— De fato. Porém, não foi o que acontecera. Marcellus alegou ter contraído uma doença na aurora que precedeu a excursão. Quando algo assim ocorria, segundo a Lei Real, a responsabilidade passava para o avô da criança, nesse caso...
— O rei — o jovem completou a fala de seu interlocutor. — Por Destino! Você está me contando a história das auroras que antecederam o desaparecimento do rei Marcus I — concluiu, exaltado.
— Na verdade, o alvo sempre fora Marcellus. Com o bebê fora de questão, o príncipe morto e o rei já velho e debilitado, a coroa estaria comprometida. Era o que os inimigos da realeza mais desejavam...
— Uma conspiração!
— Magnífico! — exclamou o prisioneiro.
O jovem parecia ter ficado satisfeito com sua última conclusão. No entanto, algo ainda precisava ser esclarecido.
— Mas para que ela fosse maquinada — refletiu —, o bebê deveria nascer frágil.
— Independente de sua saúde, foi exatamente isso o que os sacerdotes disseram.
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