— E a mensagem, como foi
recebida pelo rei? — perguntou o jovem.
— Ninguém esperava um ataque de
tamanha proporção, nem mesmo Marcus. Embora viesse de nossos inimigos, posso
dizer que Linus merecia uma condecoração por seu brilhante manejo naval. A
situação dele era delicada e crítica.
— Marcus... Marcus... Pela
Ordem! Está se referindo a Marcus II, o Ousado?
— Ele mesmo. O rei Marcus, jovem
na ocasião, teria que convocar todas as hostes oficiais dos lugares mais
isolados do reino, se quisesse ao menos pensar em uma defesa eficaz. Ele teria
que alistar todos com alguma ou nenhuma habilidade de combate, artesãos,
camponeses, comerciantes...
— E ele conseguiu?
— Quarenta mil homens! E em
apenas sete auroras! Vieram de diversos lugares, desde as regiões arbóreas de
Everard até as montanhas geladas de Vahan. Estavam a postos na planície de
Bogdana, aguardando ordens.
— É um número alto, considerando
as tantas partições contrárias ao rei nas atuais auroras...
— Naquele momento, os siegardos
perceberam que aquela não era uma guerra política ou econômica. A nossa defesa
não seria usada para proteger um rei, e sim os princípios da Ordem; uma tarefa
desempenhada maravilhosamente por Marcus. Tal manifestação por parte do rei fez
aumentar a sua aceitação dentro do reino. A Ordem estava em xeque e Marcus
sabia muito bem disso.
— Não
acredito, velho, que a guerra tivesse algo a ver com outros motivos, além dos
políticos e econômicos. Dos que conhecem algo sobre a Grande Guerra, ninguém
acredita. Linus ancorou no Velho Condado. É de conhecimento geral que naquela
região funcionava uma antiga mina de aurumnigro, o metal mais valioso de nossas
terras, tão estimado que já chegou a ser o antigo nome do reino — o prisioneiro
sorriu ao ouvir essa óbvia e desnecessária explicação. — A meu ver, Linus queria
o precioso aurumnigro, só isso. Porém, ele se equivocou, não sabendo que a mina
havia sido desativada muito antes da unificação.
— O assunto não era tão simples
quanto você pensa — disse o velho. — Naquelas alturas, as opiniões estavam
divididas. Mas, de qualquer maneira, para os combatentes absortos, era questão
de honra lutar pelo que eles acreditavam. Também por sua terra, suas mulheres e
crianças.
— Quem diria, tamanha nobreza
provir de um assassino... — o jovem disfarçou um sorriso cínico.
— Não sou quem pensa que sou! —
retrucou, categoricamente.
— É o que veremos. Mas, voltando
ao assunto, enquanto Marcus reunia suas forças, o que fizera Linus?
— Ele e sua armada se assentaram
na região do Velho Condado. Fizeram de escravos os que resistiram ao ataque à
costa, e os camponeses que ali habitavam.
— Por que ele não avançou de
imediato?
— Na posição onde eles estavam,
visto que sua manobra marítima fora bem sucedida, a possibilidade de eles
receberem um ataque surpresa por nossa parte foi totalmente eliminada. O único
combate que Linus esperaria ali era do tipo frontal. Dessa maneira, nossas
forças seriam mais frágeis.
— Uma armadilha! E o rei foi
tolo o suficiente para cair nela. Marcus poderia ter esperado as tropas de
Linus morrer por inanição.
— Era o que se pretendia. Mas
você não prestou atenção ao que eu disse antes. Linus tinha mais do que seus
próprios homens lutando ao seu lado. Subitamente, uma estranha doença se
espalhou pelo reino logo depois do desembarque em Sieghard. Os primeiros
afetados foram os habitantes de Véllamo e Muireann. Nenhum soldado daquelas
cidades compareceu aos chamados do rei. Todos estavam cegos e debilitados.
— Poderia ser uma doença trazida
por Maretenebræ...
— Tinha-se certeza de que isso
era obra de Linus — o velho prisioneiro interrompeu a fala do jovem. — Quando
os primeiros casos começaram a aparecer em Askalor e Alódia, a decisão do rei
foi imediata: atacar as forças do Caos ou sucumbir sem lutar.
— E assim acabaram realizando o
desejo de Linus, um massivo ataque frontal.
— Antes de tudo, um desejo de
Destino.
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